Os métodos de alfabetização vêm a cada dia sendo mais debatido em nosso país, obviamente o tema nunca saiu do debate dentro do âmbito da pedagogia brasileira. No entanto, depois dos baixos resultados no último PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) este debate ampliou-se na sociedade.
Dentro da avaliação, que analisa 79 países, em leitura, o Brasil ficou entre 58° e 60° lugar. Este resultado significa que os estudantes não chegam a ter compreensão do que leem, conhecem as palavras, mas não conseguem elaborar mentalmente a estrutura do texto.
Com esta introdução podemos entrar em nosso assunto, isto porque os debates acadêmicos, de profissionais da educação e na elaboração de políticas públicas para a melhora da leitura passam pelos métodos de alfabetização.
Os métodos de alfabetização mais utilizados
Apesar de gerar confusão e alguns afirmarem que há um método construtivista de alfabetização, várias correntes teóricas afirmam que, na verdade, o construtivismo é uma corrente pedagógica que pode usar um dos métodos para alfabetização.
Mesmo tendo preferência por um determinado método de alfabetização que veremos mais adiante, aqui optamos por classificar o construtivismo como uma prática pedagógica cotidiana e não deriva-la ao campo dos métodos.
Os métodos de alfabetização mais usados podem ser classificados em dois grandes grupos: os sintéticos e analíticos.
Métodos de alfabetização sintéticos
Chamamos de métodos sintéticos: os que as atividades com o aluno no processo de alfabetização começa pelas partes para ir para um todo. As letras, fonemas e sílabas são as bases para o processo de ensino-aprendizagem.
Dentre os métodos sintéticos estão:
- Alfabético ou soletração: em que o primeiro passo para alfabetizar é o aprendizado das letras, para depois começar a associação com palavras e frases.
- Fônico ou fonético: no método fônico de alfabetização, os fonemas são os primeiros a ser apresentados aos educandos, a identificação das letras e depois palavras. Neste método a aprendizagem tem como base o som das letras.
- Silábico: normalmente se apoia em cartilhas e apostilas de alfabetização, e como o nome sugere parte da construção de sílabas, em seguida frases e por fim, textos completos. Por muito tempo foi o método mais utilizado no Brasil.
O método fônico de alfabetização, apesar de não ter sido nomeado, é o que vem sendo proposto pelo Ministério da Educação para a reforma dos Parâmetros Nacionais Curriculares (PNC).
No portal do G1, eles preparam uma reportagem interessante debatendo a possibilidade de inclusão deste método.
Métodos de alfabetização analíticos
Os métodos de alfabetização analíticos fazem o processo contrário dos sintéticos. Parte de uma compreensão da palavra ou do texto em sua totalidade para o conhecimento e reconhecimento das letras.
Assim como os métodos sintéticos, são três os analíticos:
- Palavração: como o nome sugere, neste método, o processo começa desde as palavras, para em seguida ir trabalhando as sílabas e letras.
- Sentenciação: na sentenciação, a compreensão começa pelas frases, para ir diminuindo para as palavras e assim por diante até trabalhar as letras com os educandos.
- Método global: através de leituras de textos simples, mas que normalmente tem relação com o cotidiano e a cultura. O método global parte do macro (texto completo) para o micro (letras) no processo de ensino-aprendizagem de alfabetização.
O site Nova Escola, há uma matéria que facilita o entendimento sobre os principais métodos de alfabetização.
Paradigmas dos métodos de alfabetização
Os métodos para alfabetizar dentro do processo de ensino-aprendizagem envolvem tantos paradigmas que creio importante destacar aqui o trabalho desenvolvido por dois grandes educadores que não seguiram um método específico, mas ambos obtiveram sucesso trabalhando o contexto.
Paulo Freire, a experiência de alfabetização no interior da Bahia
O maior projeto da vida de Paulo Freire na prática educativa e que o tornou conhecido pelo seu método na pedagogia, aconteceu em suas primeiras experiências no Rio Grande do Norte, com alfabetização de adultos.
No que muitos chamam de método de alfabetização Paulo Freire, o educador brasileiro, utilizava palavras que os educandos tinham contato em seu cotidiano.
O método de alfabetização Paulo Freire mistura mais de um dos que vimos anteriormente juntando fonético e palavração principalmente, ou seja, tem um analítico e um sintético concomitantemente em um mesmo processo de ensino-aprendizagem, vale destacar que o método do educador via mais a educação na sua totalidade, mas obteve sucesso na alfabetização.
Deixo aqui um link do resumo do livro Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire, que preparamos com as principais tópicos de sua obra. Apesar de Pedagogia da Autonomia, ser sua obra mais conhecida, a que ele relata o método de alfabetização é Educação como prática de Liberdade.
Jacques Rancière, o educador que alfabetizou sem conhecer o idioma dos educandos
Em um relato que beira a emoção o educador Jacques Rancière, em seu livro, O maestro ignorante compartilha conosco a sua experiência e o método para alfabetizar alunos que não falavam seu idioma e que ele não tinha conhecimento sobre a língua.
Se formos tentar encaixar a proposta de Rancière dentre os métodos de alfabetização que citamos anteriormente é possível notar que ele também se aproxima muito do método global.
O educador disponibilizava textos e ia buscando a compreensão das palavras e de seus significados no cotidiano dos educandos.
O interessante é que Rancière aprendeu o idioma de forma profunda com os alunos, ele era francês e o processo aconteceu na Holanda, sendo que ele tinha pouquíssimo contato com o idioma.
Os métodos para alfabetizar propostos tanto por Paulo Freire, quanto por Rancière não são nomeados como estão aqui apresentados, fizemos isto com o intuito de mostrar que não necessariamente um único método e nem que um determinado método pode ser eficiente para qualquer situação ou qualquer grupo, o contexto social, econômico e cultural que os educandos estão inseridos influencia muito.
Magda Soares, a questão dos métodos
Para aprofundar sobre o debate dos métodos de alfabetização e como podemos melhorá-los, trabalhando desde a formação docente até a proposta de novas abordagens, o livro da professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Magda Soares, Alfabetização: a questão dos métodos é uma ótima indicação para aprofundar seus conhecimentos.
O mais interessante no livro de Magda Soares, sobre a questão dos métodos é que ela propõe diferentes estratégias pela complexidade de nossa língua. É possível notar que a autora também discorre sobre vários métodos dependendo do contexto e grupo de palavras.
Em 2013, a educadora deu uma entrevista ao Canal Futura, onde discorre suas teorias sobre os métodos de alfabetização e sua pesquisa para o livro.
Críticas, vantagens e desvantagens dos métodos de alfabetização
Há que considerar que nos dois casos que apresentamos, tanto Paulo Freire quanto Jacques Rancière trabalharam com o processo de ensino-aprendizagem com adultos, o que tem suas particularidades. Isto não tira o mérito da ação e provavelmente elas possam ser eficazes com crianças.
Atualmente, a maioria dos teóricos construtivistas apoia o método global, as críticas que eles, sofrem, entre outras, são de que o processo pode ser lento.
Os métodos analíticos sofrem críticas por poderem não provocar o que Magda Soares, nomeou como letramento. Isto é, que a escrita e a leitura envolve mais que conhecer palavras e sim, que estas palavras façam sentido, que haja compreensão do texto.
O termo letramento, cunhado pela educadora em muitas correntes teóricas têm substituído o conceito de alfabetização.
Enfim, pelas pesquisas de teóricos da pedagogia, o que podemos notar é que nenhum dos métodos de alfabetização é melhor que outro. Contudo, na educação há que entender o contexto social e cultural dos educandos e definir uma metodologia.
Referências:
Freire, Paulo. Educação como prática de liberdade. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
Rancière, Jacques. O maestro ignorante. Cinco lições sobre a emancipação intelectual. São Paulo: Autêntica, 2007.
Soares, Magda. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.